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Retorno do investimento será lento
A recuperação do investimento produtivo dependerá agora, segundo os analistas, das ações do setor público,
Samantha Maia
A queda de 9,8% da formação bruta de capital fixo (FBCF), indicador dos investimentos em máquinas, equipamentos e na construção civil, no quarto trimestre de 2008 em relação aos três meses anteriores, quebrou um ciclo "virtuoso" de crescimento - o maior dos últimos anos.
Analistas e economistas que acompanham a indústria esperam nova redução no investimento neste trimestre, com perspectiva de queda no ano ou, na melhor das hipóteses, uma estagnação ao longo de 2009. Duas razões explicam a cautela dos investidores: a crise de crédito e a própria retração da produção industrial, que deixou as empresas com um nível alto de ociosidade - o uso da capacidade instalada ficou em 78,4% em janeiro deste ano, frente a 83,3% no mesmo mês de 2008.
A recuperação do investimento produtivo dependerá agora, segundo os analistas, das ações do setor público, com incentivos à habitação e às obras de infraestrutura. Uma retomada da indústria, por sua vez, deverá ocorrer de maneira lenta em 2009, sem sinais de que sua produção supere os níveis de setembro de 2008, indicando pouca necessidade de incremento da sua capacidade. "As decisões de corte de produção, tomadas no momento de pânico da crise, não são permanentes, e algumas reduções se mostraram exageradas, como o caso do setor automobilístico. Por isso a indústria deve reagir ainda este ano, mas de forma lenta", diz Mariano Laplane, do Instituto de Economia da Unicamp.
Mesmo assim, ele afirma que a produção deverá se recuperar antes dos investimentos. Segundo ele, a queda da formação bruta de capital fixo não foi uma surpresa diante do impacto da crise sobre a confiança dos empresários no fim de 2008. "É um evento importante, que interrompe um ciclo em que os investimentos vinham crescendo acima do PIB e que não tem sinais de recuperação imediata." A taxa não apresentava variação negativa desde o segundo trimestre de 2003.
Para Roberto Olinto, coordenador das contas nacionais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), porém, a queda dos investimentos é uma "posição de cautela". " É muito difícil dizer que parou todo o processo de investimento. Nesse momento, houve redução de investimento e vai haver redimensionamento sobre fatores do futuro. Não acredito que um processo de investimento que está sendo desenvolvido no Brasil nos últimos anos possa ser analisado por um único trimestre com a sua redução", diz.
Segundo ele, ainda não está clara qual a dimensão efetiva deste momento econômico. "O investimento vinha crescendo há alguns anos, em 2008 fechou forte, a taxa está no momento mais elevado." Apesar do resultado negativo do último trimestre, a taxa de investimento aumentou 13,8% no acumulado do ano em relação a 2007. Em relação ao PIB ela alcançou 19%, seu melhor resultado desde o início da série do IBGE.
Para Rogério César Souza, economista do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), no entanto, a queda da FBCF trará consequências para o ano, e principalmente para o primeiro trimestre, quando os investimento deverão repetir a performance de redução do quarto trimestre de 2008. "Mesmo que a produção industrial tenha alguma recuperação, os investimentos continuarão parados", diz Souza.
Segundo ele, o ajuste da produção é feito diariamente, o que impede uma análise otimista diante do resultado positivo de janeiro sobre dezembro de 2008 - alta de apenas 1,3% das horas trabalhadas na indústria. "Vamos ver a indústria oscilando nos próximos meses, com uma recuperação lenta."
Alguma retomada dos investimentos poderá aparecer a partir do segundo trimestre caso os incentivos públicos à habitação e à aceleração de obras de infraestrutura surtam efeito, segundo o economista do Iedi. "O setor privado poderá ser incentivado pelos investimentos públicos", diz.
Sérgio Watanabe, presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo (SindusCon-SP), diz que a entidade está revendo para baixo a projeção de 3,5% de crescimento do setor em 2009. Segundo ele, a construção civil representou 37% da FBCF em 2008. "A retração da taxa de investimento é significativa para o setor, e os dados do PIB de 2008 fizeram com que o cenário considerado em dezembro, quando foi realizada a última projeção de crescimento da construção, ficasse superado", diz Watanabe.
O dirigente explica que o grupo mais atingido até agora foi o industrial e que as vendas não realizadas deverão ser sentidas na queda de empreendimentos apenas daqui a nove meses. "A construção civil fechou 2008 com um nível alto de atividade, que tem se segurado apesar da queda do investimento em novos projetos."
Apesar das obras públicas amenizarem o impacto negativo na formação bruta de capital, não são suficientes para retomar os investimentos em construção, avalia Paulo Godoy, presidente da Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base (Abdib). "É preciso melhorar as condições de financiamento." Outro fator importante que deve surtir efeito na recuperação dos níveis de investimento é a redução dos juros, diz Pedro Paulo Silveira, economista-chefe da Gradual Investimentos. "A única coisa que poderia ajudar a reverter a tendência de baixa dos investimento hoje seria uma queda abrupta dos juros", afirma. (com Ana Paula Grabois, do Rio)
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